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domingo, 21 de março de 2010

Dia mundial da poesia




Poeta Castrado, Não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
--- é tão vulgar que nos cansa ---
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
--- a morte é branda e letal ---
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
--- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
--- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

José Carlos Ary dos Santos

1 comentário:

  1. Lindo! É sempre bom recordar Ary dos Santos! E já agora...

    Auto-Retrato

    Poeta é certo mas de cetineta
    fulgurante de mais para alguns olhos
    bom artesão na arte da proveta
    narciso de lombardas e repolhos.

    Cozido à portuguesa mais as carnes
    suculentas da auto-importância
    com toicinho e talento ambas partes
    do meu caldo entornado na infância.

    Nos olhos uma folha de hortelã
    que é verde como a esperança que amanhã
    amanheça de vez a desventura.

    Poeta de combate disparate
    palavrão de machão no escaparate
    porém morrendo aos poucos de ternura

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